Era um dia quente e seco de primavera, parecia que as estações do ano tinham sido invertidas e o verão tinha chegado mais cedo. A preciosa erva que servia de alimento à vaca adquirira um tom castanho escuro, já não lhe servia de alimento.
Tinham passado uns dias
desde que se tinha perdido da quinta onde vivia e onde a comida lhe era
fornecida sem ter de se preocupar, mas agora isso era a sua grande preocupação.
Caminhava há horas e a paisagem era sempre a mesma, desértica. Nem uma plantinha
que pudesse ser comida!! A sua esperança era encontrar alguém que generosamente
a alimentasse. Vencida pelo cansaço, decidiu descansar à sombra de uma árvore
quando, de repente, passou um comerciante de vinhos que se dirigia para a feira.
O humilde comerciante, ao avistá-la, teve uma ideia brilhante, levava a vaca consigo
e trocava-a por umas moedas de ouro. A vaca pensou que ele fosse a sua
salvação.
O comerciante colocou
a vaca à venda juntamente com o vinho, mas a sorte não parecia estar do lado deles.
No fim dessa rua desértica não havia ninguém a quem vender os vinhos ou a vaca,
que continuava esfomeada e o comerciante não estava com intenções de a
alimentar e gastar as suas poucas moedas de ouro, que lhe restavam. A sua ideia
era ter lucro e não prejuízo.
E aí, nessa rua
deserta, a vaca esfomeada devorou as poucas moedas de ouro do comerciante para
matar a fome… e nem pediu perdão…
Não sentiu remorso porque
ele nem uma ervinha lhe tentou arranjar. Ele tentou vendê-la para sobreviver e
ela achou que seria justo comer o que ele tinha para poder matar a sua fome e
sobreviver.
Assim, o comerciante ficou sem as suas
queridas moedas de ouro e ela sem saciar a sua fome,
porque na realidade as moedas não passavam de simples metal que não lhe enchiam
a barriga.
Maria Cabral